• Testosterona

O livro, fruto de tese de doutorado, defendida em 2017 no Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ), parte de um olhar genealógico e arqueológico para elaborar uma biografia da testosterona na ciência: como surgiu e passou a existir algo que hoje conhecemos como o hormônio testosterona.
Afastando-se de uma visão essencialista da descoberta científica, o autor esquadrinha o nascimento paulatino da concepção moderna de hormônios sexuais, e, entre estes, a testosterona, tida como o hormônio masculino por excelência. Conduz-nos, assim, por uma história que implica modos diversos de compreender e estruturar o corpo de homens e mulheres: “não é somente a testosterona que passa a existir, mas também os corpos que a produzem e que são por ela produzidos” – escreve Tratamonto.
A genealogia empreendida por Tramontano passa por diferentes períodos da história do Ocidente, iniciando-se na Grécia Clássica, prosseguindo pelo Império Romano, em relatos bíblicos, adquirindo relevância na Europa ao longo da Idade Média, e chegando aos dias atuais, com a síntese de diferentes hormônios em laboratório e seus usos e aplicações, em que tratamento e aprimoramento confundem-se. 
Autonomia ou controle?
A versatilidade, e mesmo sucesso social, da testosterona articula-se à diversidade de seu uso, seja como tratamento prescrito para homens hipogonádicos, como substância semilícita empregada por desportistas de alto rendimento e certos tipos de profissionais (como policiais ou soldados), seja como droga de estilo de vida, utilizada com fins estéticos por frequentadores de academias de musculação ou com finalidade recreativa, como afrodisíaco. É comum seu uso na reposição hormonal em homens e mulheres, além de ser o principal elemento do processo de transexualização. O deslizamento entre esses diferentes tipos de consumo aproxima o uso médico (e terapêutico) do não médico (voltado para o aprimoramento).
Ao acessarmos essa biotecnologia, estamos gerindo nossa saúde e nossos corpos, com um ganho de autonomia, ou nos submetendo às normas impostas pela bilionária indústria farmacêutica? Essa é apenas uma das ambiguidades e contradições que envolvem a vida deste interessante hormônio.
Testosterona: uma personagem
Pois Tramontano aborda a testosterona como uma personagem, “coisa viva”: “Trata-se de uma substância altamente carismática, como apontou Hoberman, transformada em uma personagem social que frequenta colunas de jornais, discursos políticos, filmes, competições esportivas e programas de variedades”. Desse ponto de vista, reconta e recria sua trajetória.
No capítulo 1, “A gestação da testosterona”, Tramontano inicia a biografia da testosterona com a descrição de um período anterior ao conceito de hormônio. Apoiado nas protoideias pré-científicas de Ludwik Fleck (2010), reflete como uma associação difusa entre testículos e atributos corporais da masculinidade atravessa diferentes sociedades e um longo período histórico, até ser traduzida em termos científicos, já após o surgimento de um determinado corpo, capaz de ancorar essa associação.
Com o corpo “moderno” definido, observamos no capítulo 2 “O nascimento da testosterona”, iniciando com o desenvolvimento do conceito de hormônio até o isolamento laboratorial da testosterona. 
No capítulo 3, “Os primeiros anos da testosterona”, vemos as (muitas) controvérsias nos dois primeiros usos do hormônio em homens: na tentativa de cura de homossexuais e no rejuvenescimento de homens velhos. Encerra o capítulo com uma novidade na teoria hormonal, os hormônios pré-natais, que relocalizam a testosterona no quadro do binarismo de gênero.
Chegando aos dias atuais, no capítulo 4 apresenta “A vida adulta da testosterona”. Superadas parcialmente as dificuldades iniciais, a testosterona torna-se uma biotecnologia de modificação corporal e aprimoramento de si.
Para dar concretude à discussão, acrescenta o capítulo 5, “Um retrato da testosterona”, no qual demonstra como um famoso manual de farmacologia apresenta a testosterona e seus derivados. Para uma compreensão mais detalhada, inclui, ao fim do livro, Apêndices, nos quais é possível comparar as características das edições do manual que embasam a análise. 
Encerrando o livro, no capítulo 6, o autor pergunta-se sobre “O futuro da testosterona?”. Partindo de questões contemporâneas no debate social, delineia caminhos estratégicos para discutir os usos atuais do hormônio e alguns objetos de pesquisa privilegiados para seguir escrevendo os capítulos futuros da biografia da testosterona.

Código: L004-9786557081846
Código de barras: 9786557081846
Peso (kg): 0,390
Altura (cm): 23,00
Largura (cm): 16,00
Espessura (cm): 1,40
Autor Lucas Tramontano
Editora EDITORA FIOCRUZ
Idioma PORTUGUÊS
Encadernação Brochura
Páginas 246
Número de edição 1

Escreva um comentário

Você deve acessar ou cadastrar-se para comentar.

Testosterona