Interpretar a espiritualidade vivenciada por Dom Luciano Mendes de Almeida (1930-2006), mediante a promoção de um diálogo entre o conhecimento histórico e a reflexão teológica cristã, constituiu-se em tarefa extremamente desafiadora.
Nos círculos universitários, história e teologia geralmente são consideradas saberes inconciliáveis por pautarem-se em premissas distintas: a valorização da experiência humana, em sua contingência, e a presença amorosa da alteridade divina, encarnada em Jesus e atualizada nas comunidades eclesiais. Contudo, um olhar mais acurado aos escritos e às práticas de Dom Luciano desfaz tal dicotomia: para ele, espiritualidade consiste justamente no compartilhamento cotidiano do Bem junto aos mais frágeis, a fim de que possam perceber-se reintegrados em sua condição humana. Daí sua denominação, neste livro, como “humanismo em trans(des)cendência”, na qual três aspectos entrecruzam-se: a relação interpessoal com Cristo, a fraternidade com o próximo-distante e a reconciliação perante o mal, em favor da esperança.