Degredo dos patifes é um livro de título intrigante e convidativo. Seu texto é leitura indispensável, por abordar um tema, em grande medida, desconhecido pela maioria dos brasileiros. Poucas décadas após o “descobrimento” do Brasil, diante das dificuldades enfrentadas nas novas terras, onde tudo lhes era desafiador, os evangelizadores jesuítas passaram a buscar certo relaxamento nos rigores doutrinais, fazendo da acomodação uma estratégia missionária. Dissimulava-se a tolerância em relação a determinados aspectos culturais dos indígenas nativos, com o fim último de combater os costumes condenados pela Igreja romana, tais como a nudez, a poligamia e a antropofagia. O livro lança luzes sobre os detalhes destas dinâmicas, que se deram nos primeiros dez anos de presença da Companhia de Jesus no Brasil. O foco reside na instrumentalização de crianças, em sua maioria recolhidas nas ruas de Portugal e trazidas para o Brasil — a princípio pequenos desvalidos que vagavam sem rumo, mas também meninos retirados de suas próprias famílias. Valendo-se da ação de crianças europeias, entendia-se que seria mais fácil chegar às crianças indígenas e, por meio destas, pouco a pouco persuadir seus pais, conquistando assim tribos inteiras. O processo foi muito bem pensado e a estratégia, muito bem utilizada, porém raramente foi simples em sua implementação. Ao abrir este livro, o leitor deve estar pronto para voltar 500 anos no tempo, para assim testemunhar uma verdadeira cruzada cristã, que se deu nas brenhas da Mata Atlântica. Degredo dos patifes nos ajuda a entender este episódio tão interessante da História do Brasil, mas ainda desconhecido pelo grande público — mesmo que abordado pelos historiadores, com alguma frequência, em suas produções acadêmicas.