A obra de Polito nos remete incessantemente à idéia de bloqueio, paralisia, desolação, confinamento. Tudo se passa em meio a jaulas, muros, desertos, cinzas..., como se a imobilidade, a clausura e o apagamento fossem as únicas saídas em face de uma realidade (tanto interna quanto externa) experimentada como altamente hostil. O eu, a um só tempo exausto e vígil, deve blindar-se, recusar toda sorte de intercâmbio com o entorno, dobrar-se sobre si mesmo ou se ocultar nos desvãos, nos lapsos, nos intervalos da duração. (Fabio Weintraub, "Cerco de cinzas" Revista CULT, número 24, SP: Lemos Editorial, julho de 1999)
Esse escuro conducto, pasto de ventanias, é o mesmo que em Vaga recebe justamente o nome de "Passagem" [...] É das imagens mais recorrentes na obra anular de Ronald, onde o corpo se figura como boneca oca, invertebrada, ocasionalmente conturbada por experiências incomunicáveis. Como uma hérnia irredutível, é um saco (mal) regulado pelo frêmito esboçado por seus esfincteres, através dos quais se comunica com o exterior. O ato poético, daí, é pura emanação. [...] - Seu lirismo decaído e desértico fala de uma forma de ser e estar que perdeu o pé no mundo contemporâneo, com sua força de esvaziamento da memória e descentramento das almas viventes. (Sérgio Alcides, "Ronald Polito, uma vaga idéia" - Revista Rodapé, número 1, SP: Nankin, novembro de 2001)
Sobre o autor: Ronald Polito nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 1961. Publicou três livros de poesia: Solo (Rio de Janeiro: Sette Letras, 1996), Vaga (Mariana: Edição do autor, 1997) e Intervalos (Rio de Janeiro: Sette Letras, 1998), além de uma plaquete com poemas gráficos, Objeto (Mariana: Edição do autor, 1997). Preparou as edições dos poemas A Conceição: o naufrágio do Marialva, de Tomás Antônio Gonzaga (São Paulo: EDUSP, 1995), e Caramuru: poema épico do descobrimento da Bahia, de frei José de Santa Rita Durão (São Paulo: Martins Fontes, 2001). Traduziu, com Sérgio Alcides, o livro Poemas civis, do poeta catalão Joan Brossa (Rio de Janeiro: Sette Letras, 1998), e o livro Almanaque das horas e outros escritos, do escritor mexicano Julio Torri (São Paulo: Fundação Memorial da América Latina, 2000).