Escrito há dez anos, O Lugar do Fandango Caiçara: patrimônio, ritual e direitos humanos tem agora sua publicação em forma de livro sem perder sua atualidade. A publicação é muito oportuna, para que o extenso e sensível trabalho de pesquisa de Carmem Lúcia Rodrigues seja disponibilizado para um público mais amplo que já acompanha ou que virá a acompanhar depois da leitura, a luta dos caiçaras. Em um momento em que é cada vez mais evidente a importância, para o futuro de nós todos, da afirmação política, ecológica e existencial dos modos de vida de povos e comunidades tradicionais, das águas, das florestas e campos, vêm a calhar trabalhos como esse que abordam a complexidade e a delicadeza das resistências e reinvenções desses povos.
Baseado em uma grande familiaridade com a região e um envolvimento pessoal e político com as comunidades, a relação da autora com o fandango caiçara não é de uma apreciação distanciada, purificadamente estética ou exotizante, mas se centra na busca de entender como dançar, tocar e cantar fandango está implicado por dentro com o agenciamento de um modo de existir próprio, enraizado, dinâmico, mutável e demandando um território que é o tempo todo multiplamente disputado, numa luta desigual que vem se articulando há décadas e continua intensa.
Talvez esteja especialmente nesse ponto uma das contribuições mais interessantes do trabalho que o leitor ou leitora tem em mãos: se o ataque que sofrem os caiçaras tende a destruir a delicada relação que constituíram com a floresta, o mar, o território e o trabalho na roça, na pesca, a pesquisa situa o plano da dignidade como algo central do ponto de vista dessas famílias e dá grande peso a esse aspecto para a compreensão da importância da retomada do fandango e de seu modo próprio de festar, que não se separa do curar e do rezar.
Se no cerne do fandango está a expressão ritual do respeito — tal como nos traz a autora ao explorar a vasta bibliografia antropológica sobre rituais —, é numa diversidade de novos contextos que esse ritual será realizado, trazendo novas questões e complexidades.
Professor doutor John Comerford
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social
Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
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Autor |
Carmem Lúcia Rodrigues |
Editora |
APPRIS |
Idioma |
PORTUGUÊS |
Encadernação |
Brochura |
Páginas |
257 |
Ano de edição |
2025 |
Número de edição |
1 |