Evidenciar o protagonismo indígena na formulação, na estruturação e na implementação da atual política de saúde indígena no Brasil. É com esse objetivo que a Editora Fiocruz e a plataforma editorial PISEAGRAMA lançam, em coedição, Vozes Indígenas na Saúde: trajetórias, memórias e protagonismos, livro que estará disponível para aquisição a partir de 29 de julho, exclusivamente em formato impresso – via Livraria Virtual da Editora. Organizada por Ana Lúcia de Moura Pontes, Vanessa Hacon, Luiz Eloy Terena e Ricardo Ventura Santos, a coletânea compila relatos de 13 lideranças acerca de suas trajetórias de vida e de atuação no movimento indígena, com ênfase no campo da saúde. A obra foi produzida no âmbito do projeto de pesquisa "Saúde dos Povos Indígenas no Brasil: perspectivas históricas, socioculturais e políticas", coordenado por Pontes e Ventura Santos, ambos pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz).A equipe do projeto conduziu, em 2018 e 2019, entrevistas com diversas lideranças das regiões Norte e Nordeste, que participaram de eventos e espaços estruturantes da saúde indígena, como as Conferências Nacionais de Saúde Indígena e a Comissão Intersetorial de Saúde Indígena, além da implementação dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) e dos Conselhos Distritais de Saúde Indígena (Condisis). "A coletânea mostra os desafios enfrentados pelos povos indígenas, tanto na criação de espaços de representação política quanto na ocupação desses espaços", afirma Ana Lúcia. A sanitarista enfatiza que as narrativas apresentadas ao longo da obra mostram o surgimento do movimento indígena contemporâneo no Brasil, problematizando as relações com o Estado nacional e ampliando as discussões sobre as noções de territorialidade, identidade, cidadania, educação e saúde. As lideranças que compõem os depoimentos presentes no projeto são: Ailton Krenak; Zezinho Kaxarari; Chico Apurinã; Letícia Yawanawá; Carmem Pankararu; Lourenço Krikatí; Ivani Gomes Pankararu; Davi Kopenawa Yanomami; Álvaro Tukano; Iolanda Pereira Macuxi; Clóvis Ambrósio Wapichana; Jacir de Souza Macuxi e Megaron Txucarramãe Mebêngôkre. Já o último texto da coletânea apresenta uma conversa com duas jovens e proeminentes lideranças da atualidade: Célia Xakriabá e Luiz Eloy Terena (um dos organizadores), que refletem sobre as narrativas históricas a partir de uma perspectiva contemporânea. Além disso, uma série de desenhos do artista visual Wapichana Gustavo Caboco atravessa as páginas do livro. As imagens de Caboco foram inspiradas pelas práticas de mulheres do povo Wapichana, que trafegam entre os mundos da medicina indígena e da biomedicina ocidental. Quem assina a orelha é Joenia Wapichana, advogada formada pela Universidade Federal de Roraima (UFRR) e mestre em Direito pela Universidade do Arizona (Estados Unidos). Relatos individuais, memórias coletivasPara Terena, os relatos e registros presentes no volume são fundamentais para o público entender como vem sendo o desenvolvimento do movimento indígena no Brasil. "Muitas pessoas têm um olhar viciado de entender o movimento indígena como algo que começou nas décadas de 70 ou 80, quando, na verdade, a percepção que temos é de que esse movimento é de resistência e aconteceu desde o primeiro cacique que se opôs ao processo colonial. E, com a Constituição de 1988, a gente passa a ter uma nova forma de o movimento se organizar e se apropriar de novos símbolos, novos instrumentos, novos discursos. E essa coletânea traz justamente esse resgate, porque traz as falas dessas lideranças", destaca o advogado e doutor em Antropologia. De acordo com ele, a obra pode servir como um "material de formação para o próprio movimento indígena". O autor e organizador chama atenção para o aspecto da questão científica presente no livro, que tira esses atores sociais do papel tradicional de objeto de pesquisa e os coloca como protagonistas. "É muito importante porque essas lideranças trazem esse resgate da trajetória individual e essas trajetórias individuais expressam também trajetórias coletivas", ressalta Eloy Terena. Ana Lúcia reforça a ideia de que as narrativas dos próprios indígenas fortalecem a ampliação da memória coletiva sobre a luta pelo direito à saúde diferenciada. "Esperamos que essa obra fortaleça a produção acadêmica alicerçada sobre biografias indígenas, explorando outras perspectivas e experiências baseadas em vozes silenciadas historicamente. O livro apresenta um panorama diversificado de narrativas individuais, que percorrem experiências pessoais e memórias coletivas sobre a construção da política de saúde indígena no Brasil", finaliza.