Um livro de estórias? Pois quase. De fato poderia ser, pois são inúmeras delas que levaram a sua concepção, idealização e concretização. Tudo começou em 2011, na região sudeste de São Paulo, quando recebi o convite para ser membro da equipe de capacitação em parada cardiorrespiratória na Atenção Primária à Saúde (APS) desta região.
Desafio? Como em tão pouco tempo transformaria minha posição de aluno daquele maravilhoso curso para instrutor? A semente foi lançada!
Dia após dia realizava, com minha maravilhosa equipe, estes cursos para os profissionais de dezenas e dezenas de Unidades Básicas de Saúde (UBSs) do município de São Paulo e com alegria, energia e vibração intensa, sempre sentia um prazer imensurável pela sensação de que cada curso seria responsável pela melhora assistencial do atendimento a uma população aproximada de 40.000 pessoas. Sem dúvida multiplicando esses números, toda a merecida população de minha amada capital teria assistência qualificada na patologia que traça o limite entre a vida e a morte. Como essa sensação era (é) agradável.
Lembro-me bem como em todas as noites que antecediam os cursos, eu lia incansavelmente todos os protocolos assistenciais à parada cardiorrespiratória, e quando carinhosamente minha amada esposa me convidava a dormir, referindo com toda razão que já era a milésima vez que eu estudava os mesmos protocolos. Lembrança carinhosa,
e sensação de pura responsabilidade e auto-necessidade de estar presente no curso com todas as informações necessárias para responder às questões que aqueles profissionais demandariam para salvar a vida de alguém muito especial, um pai, uma mãe, um filho, uma filha, alguém muito importante de uma população de 40.000 pessoas que
mereceria todo amor e cuidado como se fosse meu ente querido.
A partir daí, minha paixão pelo ensino de emergência no âmbito da APS, cenário de minha atuação como Médico de Família e Comunidade, cresceu a cada instante de modo exponencial. Fui convidado a ser instrutor de ACLS (Advanced Cardiovascular Life Support) da consagrada AHA (American Heart Association) e em seguida do maravilhoso TECA A (Treinamento de Emergências Cardiovasculares Avançado) da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia). A dedicação e auto-cobrança aumentava a cada instante, revendo a cada noite prévia aos cursos inúmeros protocolos que se transformavam em parte mim. E Brasil a fora, por diversos anos, realizei com grandes amigos inúmeros treinamentos e, sem dúvida alguma, pessoas únicas e especiais foram salvas por profissionais carinhosamente bem treinados.
Neste momento, já mais maduro para construção de uma crítica, refleti sobre o motivo da ausência de um grande curso com um material de densidade adequada para a Assistência às Emergências na Atenção Primária à Saúde. E como Médico de Família e Comunidade, remeto-me sempre às Unidades Básicas de Saúde nas quais tive a honra de assistir a tantas pessoas especiais em situação de emergência, de todos os ciclos de vida, e como me fez falta um guia prático com fluxogramas bem estruturados que me guiassem no atendimento às crianças, adultos, idosos, mulheres, gestantes e pacientes com patologias de cunho mental. Estava aí minha crítica, de fato não há, na literatura internacional, produto que simplifique a Assistência às Emergências na APS para todos os ciclos de vida e facilite o atendimento aos profissionais de saúde, inclusive recém-formados, de modo sistematizado. E mais do que isso, os grandes cursos que citei focam-se fundamentalmente na assistência à parada cardiorrespiratória, porém, todas as patologias mais prevalentes de todos os ciclos de vida não são abordadas. Detalhe: são elas que chegam dia após dia na porta do profissional.
Meus sonhos iam crescendo e a semente já havia se transformado em uma árvore robusta.
Sou convidado a realizar um curso de formação em emergências na APS a acadêmicos do sexto ano da Faculdade de Medicina do Santa Marcelina em São Paulo no meio do ano de 2016. Com esse desafio, e após término do curso, junto a meus amados alunos Alessandra, Eduardo e Raíssa, o livro foi fecundado. E meses a meses, regado a muito amor, reuniões eternas e cansativas, noites de sono ausentadas, e mais amor ainda, o livro foi crescendo com uma força incomparável.
Em seguida, sou convidado a apresentar uma oficina do mesmo tema no Congresso Brasileiro de Medicina de Família e Comunidade de 2017. Notei sucesso completo no instante em que, apesar da apresentação ter sido no último dia do congresso, inacreditavelmente a sala apresentava mais de 100 participantes, tendo ficado muitos deles sentados no chão pois os assentos haviam se esgotado. Uma grande honra para mim. Naquele momento tive a certeza que a obra teria uma repercussão nacional, porventura internacional. E exatamente neste ano de 2018, de grande significado para mim, aquela árvore robusta, cheia de energia, vibração e muito amor, dá o seu primeiro fruto. Dedico este fruto a você leitor, aprecie o seu sabor adocicado a cada leitura, consulta e principalmente utilização na prática assistencial. Que seja um fruto tão saboroso que possa salvar muitas e muitas vidas.
Sementes podem germinar e se transformar em adocicados frutos assim como sonhos tornam-se realidade. Lance sua semente!