• Os deus falam pelos govis

A imersão em experiências limites, entre consciência e inconsciência; o olhar sobre o transe de possessão e suas conexões com a criação artística; o encontro entre a mente europeia e a convulsão corpórea, convulsiva e afetiva da feitiçaria haitiana.
Esses são alguns dos temas que perpassam o relato do surrealista francês Pierre Mabille (1904-1952) em Os deuses falam pelos govis, com tradução de Marcus Rogério Salgado.

O Haiti aqui apresentado destoa do lugar comum construído ao longo dos anos pelo noticiário – com destaque para as sucessivas crises políticas e a condição de pobreza imposta à sua população. Publicado originalmente na revista Les Lettres nouvelles em 1958, seis anos após sua morte, o relato de Mabille parte de uma perspectiva surrealista – portanto anticolonial – em sua busca incessante pela liberdade absoluta. Os deuses falam pelos govis não se propõe a explicar como a colônia mais produtiva das Américas – primeira a conquistar a independência por meio de uma revolta de escravizados – se tornou o país mais pobre do continente. “Os deuses falam pelos govis não responde a essa pergunta, tampouco se dispõe a fazê-lo. O que encontramos no texto de Pierre Mabille são justamente as ressonâncias daquele impacto sobre os modos de percepção das alteridades radicais, só que registradas em verbo a partir de coordenadas lançadas pelo surrealismo”, destaca Salgado na apresentação.

Com todas as tensões etnográficas, estéticas e ideológicas que o estruturam, continua Salgado, Os deuses falam pelos govis “pode funcionar como uma boa porta de entrada para o pensamento de Pierre Mabille”. Pensamento este que “varre como um tornado qualquer escolha possível. Abre-nos, sem mais delongas, as portas para a liberdade absoluta”.
Com o avanço do nazismo na Europa, a aventura surrealista se espraiou pelas Américas na década de 1940, momento que representa um avanço para a relativização do eurocentrismo na arte e a valorização de tradições artística e culturais fora do Ocidente, ideais preconizados pelo movimento a partir do Manifesto do surrealismo (1924).

Médico e intelectual francês em missão diplomático-cultural no país, Mabille estabeleceu “vasos comunicantes” entre o surrealismo e o Haiti, tendo sido responsável por recepcionar e acompanhar André Breton durante sua estadia no país,
em meio a sublevações estudantis e culturais.

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Autor Pierre Mabille
Editora 100/CABEÇAS
Idioma PORTUGUÊS
Encadernação Capa dura
Páginas 48
Ano de edição 2023
Número de edição 1

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