• Leminski, pensador selvagem

“Ser selvagem é a coisa mais chic que existe. Ao dominar os grãos, o homem sente uma enorme necessidade de inventar a cerca. A fronteira é a marca da posse sobre os vegetais domésticos, os animais domésticos, o corpo da mulher, os deuses domesticados para louvor. Após a cerca, o mundano, o imprevisível, o inclassificável, o incontrolável, o desmedido: a selva. De lobos, bruxas, espíritos malignos, não civilizados, silvícolas, animais assustadores de natureza-monstro. Porém, hoje (ou sempre), findado o projeto funesto de uma vida toda-mercadoria, entre desejo fantasmático de coisas, controle e manutenção permanente da sede de um enorme nada, a floresta é uma chave, última (será?) como possibilidade de uma criatividade, seiva restante a alimentar nossa sede imodesta, artificiosa e destrutiva. E tudo já estava lá. Essa a inversão fabulosa desse livro: tomado pela mão do poeta Paulo Leminski — espada em punho —, de seu pensamento, seus livros, seu corpo, Manoel Ricardo de Lima se move às avessas, não na direção da floresta, mas para dentro da própria cultura, armando um dispositivo bélico — menos parecido com um drone, mais próximo de uma antiga mina —, para imaginar uma maneira de pensar que esteja mais próxima daquilo que fez Leminski: anárquica, “anarquivista e selvagem: sem uniformidade, completamente informe”. Daí, fragmentos, estilhaços para toda a parte, numa retomada que desmonta radicalmente a ideia de fronteira, desarticulada, mas tomando o pensamento como força. Que o próprio campo da cultura seja tomado pela afetação desarranjada, pelo o imprevisível, o inclassificável, o incontrolável, o desmedido e se torne ele também uma selva. Que esta anarquia nos sacie, mesmo que temporariamente. Ou, bem melhor, desapareça.”

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Autor Manoel Ricardo de Lima
Editora MÓRULA EDITORIAL
Idioma PORTUGUÊS
Encadernação Brochura
Páginas 116
Ano de edição 2025
Número de edição 1

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Leminski, pensador selvagem