Entre as reminiscências de uma Belo Horizonte que ficou na parede da memória, lá nos anos sessenta e setenta da nossa infância, e os casos de uma longa e bem-sucedida carreira de jornalista, Cláudio Arreguy nos brinda neste livro com quase quarenta crônicas marcadas pela delícia de sua leitura. Sérgio Rodrigues, colega de letras e redações do Cláudio, já dá a deixa na apresentação do livro: o autor domina a arte da palavra com apuro e desenvoltura, e não poupa discrição.
Não é coincidência nossa quase homonímia. Somos primos de primeiro grau, “irmãos de opa”, como se diz na nossa família, parceiros, compadres, amigos. Entre os pequenos detalhes que nos diferenciam, um pareceria incontornável, não fosse maior que tudo o amor que nos une: eu sou Galo, ele é Cruzeiro. Isso, no entanto, pouco importa quando os valores mais altos se alevantam: a defesa intransigente do bom jornalismo, da ética, da independência, dos interesses do leitor.
Por aí se vê que sobra pouco espaço pro tipo de profissional que é o Cláudio Arreguy. Saem perdendo as empresas de comunicação, com suas prioridades distorcidas, e os leitores, claro. Pra nossa felicidade, porém, aí estão os meios eletrônicos, os sites e redes sociais, por meio dos quais mantemos contato com suas análises sempre acuradas. Imperdíveis os balanços de cada rodada no Canal Arreguy do Youtube. Os comentários bem-humorados, os trocadilhos e o olhar certeiro nos posts do Twitter. E as crônicas no Ultrajano.
Viagens claudicantes reúne algumas dessas qualidades do jornalista, mas sobretudo as do cronista, de olhar atento e afetuoso pro passado e pro futuro. A autoironia observada por Sérgio Rodrigues faz parte da piada. O trocadilho irresistível, a brincadeira de quem sabe rir de si sem se jogar pra baixo. Bem-vindos à verve de Cláudio Arreguy. E deliciem-se como nós!

Clara Arreguy, jornalista e escritora