Em 1565 os portugueses fundam a cidade do Rio de Janeiro, ao sul de seu império americano, de modo a expulsar os franceses que haviam se estabelecido na Baía de Guanabara. Porto militar e negreiro, a cidade baseia seu progresso, de início, no comércio e na exportação de ouro de Minas Gerais. Capital do vice-reino do Brasil, acolhe, com a corte portuguesa que ali se instala em 1808, todos os modelos de civilização importados da Europa. Coração do Brasil Imperial, torna-se o “cadinho” em que se elaboram novas formas de cultura – o carnaval, o samba e, já então, o futebol. Laboratório e vitrine do País, conhece todos os sistemas políticos: um regime monárquico, uma república oligárquica, a ditadura de Getúlio Vargas. Destituída de sua função de capital em 1960, a cidade do Rio de Janeiro continua a dar o tom e a reivindicar seu papel de porta-voz de uma nação mestiça.
Assim, de sua fundação em 1565 à eleição de Luiz Fernando Pezão para o Governo do Estado em 2014, A História do Rio de Janeiro, escrito pela professora francesa Armelle Enders, apresenta um retrato minucioso da história da cidade. Às vésperas das comemorações desses 450 anos, os cariocas de nascimento e por adoção ganham uma nova edição revista e atualizada da obra, que será lançada pela Gryphus Editora em todo o País no dia 1º de março.
Professora da Universidade de Paris- IV- Sorbonne, Armelle Enders esmiúça em oito capítulos ilustrados por mapas, documentos históricos e fotografias, o processo de evolução e transformação da cidade. Frequentemente tachados de festeiros e despreocupados, os cariocas, na verdade, não nasceram munidos de calção de banho, bola de futebol, sorriso no rosto ou samba no pé. Essa construção se deu muito mais tarde pois, antes disso, a cidade foi palco de inúmeras batalhas, e com uma população pouco inclinada a entusiasmos e manifestações ruidosas.
“Os encantos cariocas caminham junto à história desta metrópole que ao conjugar política, interesses econômicos e sociologia, fascina não só aos que a observam de fora do seu território como aos seus próprios habitantes”, diz a autora, que esteve aqui pela primeira vez na década de 80 e já viveu no Rio em diferentes momentos para aprofundar suas pesquisas.
Armelle, que se apaixonou pelo Rio e tem carinho especial pelos bairros do Centro e do Leme, discute também em sua obra o papel da Cidade Maravilhosa diante do mundo. “Mesmo não sendo mais capital há muitos anos, o Rio continua sendo a vitrine do Brasil, a porta de entrada dos turistas estrangeiros e a síntese do País. A cidade tem esse brilho internacional. Explico num dos capítulos o renascimento desse papel específico”, frisa a autora.
A obra levanta também os problemas do Rio, com queixas que acompanham a cidade ao longo de sua transformação. Desde o início as crônicas e correspondências mesclaram o encantamento pela exuberância do lugar, em contraponto com serviços públicos ineficientes. “No Rio de Janeiro, a ordem e a desordem parecem sempre caminhar juntas. O perigo desta imagem de cartão-postal é reduzir a cidade à Zona Sul e Cidade Olímpica, como se o lado escuro pudesse ser contido ou escondido”, resume Armelle.