A partir de uma pesquisa de campo em todas as trinta escolas municipais de Educação Infantil de uma das treze diretorias de educação da cidade de São Paulo em 2012, escolhi oito mulheres negras professoras para com elas realizar entrevistas que registraram suas histórias de vida e trajetórias profissionais. Neste livro, apresento algumas das experiências sensíveis dessas mulheres, suas relações com o trabalho pedagógico, bem como suas percepções sobre o racismo, o sexismo e o conhecimento. A partir de suas falas, a compreensão compartilhada ao final desta pesquisa afirma a importância do magistério para as mulheres negras na atualidade, este sendo mais um lugar possível de atuação para as mesmas, “naturalmente” vinculadas a trabalhos vistos como inferiores na escala de prestígio social, a saber, empregadas domésticas ou lavadeiras. Este trabalho ousa reivindicar o poder ainda presente nesta profissão para a população negra de baixa renda, sendo um modo possível de dar sentido à vida dessas mulheres que, a despeito da falta de oportunidades, seguem sobrevivendo e negociando como podem sua existência. Então, digo isso pra você... Pelo seu trabalho, é isso que eu quero dizer... Talvez você encontre outros caminhos de dizer pras outras pessoas... Quem sabe vai chegando... Porque você não vai parar nisso, entendeu? Porque existe a necessidade dessa pulverização, de pulverizar isto, porque hoje você está fazendo essa faculdade, de repente, você vai fazer outras, vai crescer dentro disso, isso é um início pra você, mas outras coisas mais amplas virão pra você, então, por favor, se você puder disseminar isso, lá aonde você for, precisa, tá? (Neuza, 46 anos, professora negra).