A cultura é um mapa, uma carta de navegação, com balizas e faróis. Antes mesmo que apareça o conhecimento, ela já se faz presente como uma matriz de orientação para fazer diferenças e estabelecer critérios – como um mapa da memória do saber pertinente à reprodução da consciência moderna. Nesse contexto, cultura é tanto espírito como mistério do mundo: uma visão intelectual e sensível, isso que o grego antigo chamava de eustochia, a mirada certeira e penetrante numa situação crítica. Podemos falar de grego antigo, mas também do olhar perscrutante do orixá Oxossi. No relato mítico, Oxossi ultrapassa a distância do sol e o apaga com uma flechada.
Eu gostaria de interpretar essa distância como o espaço da possibilidade ética, que vem dos ancestrais, mas irrompe liturgicamente no comum sagrado. No sagrado, na utopia ou na ciência, tenta-se localizar essa distância. A ética, contudo, não implica realmente nenhuma transcendência, nenhum “além”, em matéria de valores e normas, e sim uma imanência dinâmica (uma coisa naturalmente inerente à convivência) comum a toda habitação humana num espaço determinado. De fato, no continuum da ancestralidade, o que entendemos como ética não se resume a um conjunto codificado de regras de conduta em função de um Bem. Ética implica toda a envergadura das realizações transtemporais de um grupo humano guiado pelo brilho de sua verdade própria e pelo apelo de sua dignidade, isto é, da regra ancestral instituída ao mesmo tempo que se fundou o grupo.
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Autor |
Muniz Sodré |
Editora |
MAUAD X |
Idioma |
PORTUGUÊS |
Encadernação |
Brochura |
Páginas |
156 |
Ano de edição |
2023 |
Número de edição |
4 |