“Você tem uma vida tão bonita, bota em cena.” Seguindo os conselhos de ninguém menos que Fernanda Montenegro, Flávio Marinho escreve 2 ou 3 coisas que eu sei delas, uma dramaturgia, agora publicada em livro, que conta a história da sua formação.
Foi ela, a arte, a responsável por sua educação sentimental. Através de um texto saboroso, percorremos tempos e lugares de um universo cultural e afetivo que moldou a ele e a muitos de nós. Das telas do cinema, com Julie Andrews e Sarita Montiel, à televisão, assistindo Fernanda Montenegro em Grande Teatro Tupi, mas, sobretudo, nos palcos, onde Flávio viu performar grandes damas do ofício, como Bibi Ferreira e Marília Pera.
Acompanhado em cena pelas amigas e fiéis escudeiras Soraya Ravenle e Liliane Secco, Flávio Marinho encena sua jornada do herói nesta comédia musical: do pequeno menino cinéfilo ao aficionado pelo teatro, aos anos nas redações da imprensa, até se tornar autor, diretor e por fim, por que não?, ator.

Trecho

“Tinha dez anos e fui com a minha mãe e a minha tia no cinema Palácio, hoje o lindo Teatro Riachuelo. Fiquei doido pelo filme e, como toda criança obsessiva, eu queria ver a Noviça [Rebelde] toda semana. É claro que ninguém lá em casa estava disposto a ficar me levando. Foi então que meu pai, que era coronel, resolveu ensinar ao cadete — eu! — a me virar sozinho. Então, eu pegava o 119 e, quando avistava o Monumento Aos Pracinhas, eu puxava a cordinha, descia do ônibus, atravessava a rua e ia parar no Palácio. [pausa] Eu acho que, de uma certa forma, eu ainda estou lá, naquela poltrona, protegido pelo escurinho do cinema e embalado pela voz da Julie Andrews...”