Quase meio século após fundar o Odin Teatret, deixando o legado de uma maneira diversa de fazer teatro, uma série de espetáculos legendários, a vontade de abraçar tradições cênicas de outros continentes e, ainda, uma preciosa quantidade de escritos teóricos, Eugenio Barba faz aqui uma análise de sua vida de criador experimental, em obra de grande importância histórica. Tratando-se de um texto indispensável à compreensão da dramaturgia contemporânea, a editora Perspectiva decidiu trazê-lo ao público e aos profissionais do teatro, certa de que esta contribuição é tão valiosa quanto dezenas de outros volumes já publicados sobre a arte da encenação. Em Queimar a Casa: Origens de um Diretor, o mestre destila sua longa experiência, desde as primeiras tentativas, até confiar, a quem procura fazer um teatro próprio, como imaginar, sonhar ou mesmo superar o descontentamento relativo ao espírito do tempo. E o faz sem nunca afastar-se da solidez do artesanato, aquele de uma dramaturgia que envolve o entrelaçamento da ação cênica, da organização e da direção, com o intuito de se alcançar uma comunicação direta com qualquer espectador, de modo que cada um consiga vivenciar seu próprio espetáculo. Dialogando com grandes mestres que já se foram e falando de seu passado, o autor parece decidido a não esconder nenhuma de suas angústias ao leitor, ao qual confessa, sem véus, a própria experiência. Deste modo, a obra faz fronteira entre um tratado de natureza técnica e um romance autobiográfico; da morte do pai ao ingresso na escola militar, da chegada à Suécia, de carona, à experiência de marinheiro, da infância em Gallipoli ao encontro com Grotowski, partindo de uma estranha recordação de infância: um espetáculo que termina em chamas.