A literatura (primeira forma absorvida pela cultura de massa), em sua transformação, permanece ainda, como o grande foco irradiador, fornecendo a matéria-prima para o roteiro cinematográfico, o enredo da telenovela ou o texto da fotonovela. Ainda que mascarada, a literatura (no seu sentido mais amplo), uma das modalidades que funciona como resposta à necessidade universal de ficção, ressurge hoje, transformada e enriquecida, desenvolvida, freqüentemente, em novas formas. No gesto que move o ficcionista, o cineasta, o desenhista de quadrinhos, ou o roteirista de televisão, define-se de um lado o milenar gesto de narrar, testemunhar; do outro, sua esperança de contentar a inesgotável sede de fantasias, sonho e imaginação de seu leitor/espectador. Na realidade deste ato, avulta a marca transformadora dos novos modos de (re)produção da arte. Procurar fisgar os movimentos dessas passagens, eis a que se propõem os ensaios que compõem esta coletânea, pois, segundo Ligia Averbuck sua organizadora: ¿é preciso não esquecer que no viés das contradições do artista e da arte de nosso tempo, da palavra mascarada sob o invólucro colorido do produto industrializado esconde-se, como tema secreto, o sonho de utopia que ainda acalentamos¿. Partindo de uma perspectiva que vê a literatura como um todo, os textos abordados permitem questionar uma hierarquia que sacraliza formas ditas literárias, institucionalizadas, e resgatam para a literatura formas marginalizadas, representando uma visão ampliadora no impasse da cultura de nosso tempo.