A conformação de um saber-prática na sociedade O livro Comunicação Organizacional: saber e prática-discursiva lança um olhar sobre a área inspirado em pistas metodológicas postuladas por Michel Foucault, apreendendo-a como uma árvore de derivação enunciativa. A metáfora proposta pelo filósofo faz emergir as relações de forças presentes na conformação de saberes e práticas discursivas. Na raiz da árvore, ou na base de um saber, há enunciados reitores — discursivos e não discursivos — em articulações com outros que vão se ramificando e emergindo na copa, em relações de forças. Essas relações exercem o que Foucault denomina função enunciativa que, por sua vez, moldam formações discursivas que passam a ser consideradas verdadeiras ou, em outros termos, aceitas como verdade. Portanto, enunciados, função enunciativa e formações discursivas, que conformam uma prática discursiva, são decorrentes, recursivamente, de relações de poder e saber. Com essa inspiração, o livro apresenta a relação direta entre as noções de Comunicação Organizacional no Brasil e as de organização, sobretudo a partir da Revolução Industrial, quando ocorre a cisão entre as atividades de sujeitos gestores e operadores e coloca o/a trabalhador/a a serviço da organização, perspectiva enfatizada, mais tarde, pelos preceitos da competitividade de mercado e pelos modelos desenhados pelas ciências da gestão. São enunciados discursivos e não discursivos, situados na raiz da árvore de derivação enunciativa da Comunicação Organizacional, exercendo funções na conformação dos construtos da área. A ênfase na informação e na gestão utilitária da comunicação em contextos organizacionais apresenta-se, quase que de forma hegemônica, como função enunciativa que conduz à ideia de comunicação organizacional como instrumento e ferramenta de produção e acúmulo de saber-poder. Nessa perspectiva, a natureza complexa e incerta, inerente ao fenômeno e ao processo comunicacional, não é considerada. Em sua pesquisa realizada durante o doutoramento, analisando quase 700 artigos publicados na área da Comunicação Organizacional de 2008 a 2018, a autora investigou a relação e o movimento saber-poder-verdade e os conceitos de Comunicação Organizacional que deles emergem. Os achados, apresentados nesta obra, são fundamentais para a compreensão do fazer comunicação em contextos organizacionais no Brasil e para sua problematização.