Maria Firmina dos Reis e Michel Foucault: diálogos possíveis no romance Úrsula lança um olhar para o discurso literário e as possibilidades de análise sob conceitos como autoria, devir e interdição, sempre se atentando às amarras das relações de poder em uma conjuntura. A obra demonstra como os enunciados presentes na tessitura de uma obra literária podem sinalizar “o rosto de uma época”. Para tanto, no primeiro capítulo da obra, a autora fornece elementos da análise do discurso francesa, para que o texto firminiano seja investigado por meio de cenas enunciativas e demonstra como o filósofo Michel Foucault sempre esteve atento ao discurso literário, considerando como uma nova história. No segundo capítulo, a autora aborda os discursos do negro e da mulher, principais temáticas tratadas na narrativa de Úrsula, priorizando a regularidade dos discursos no Maranhão oitocentista. A autora demonstra que o conceito de autoria corresponde a uma função no discurso, e que não é necessário um nome “potente” no cenário literário para tratar “realidades” sociais em um texto de ficção. Mostra que personagens e narradora representam “devires revolucionários”, uma vez que apresentam os lugares de negros e mulheres que são subalternos no Maranhão oitocentista. Nesse sentido, demonstra que uma obra literária pode fazer alegoria da realidade social, mas esclarece que são os fatos históricos que fornecem oportunidade de discursos para que uma obra seja criada, uma vez que a realidade está imbricada com a arte. Por fim, a autora analisa cenas enunciativas nos romances, apontando temas como patriarcalismo, submissão feminina, escravidão x abolicionismo, resistência e poder. A obra finaliza demonstrando que a linguagem literária não é apenas poética, é uma escrita que representa uma função histórica. Portanto, os diálogos possíveis entre a escritora Maria Firmina dos Reis e o filósofo Michel Foucault correspondem a um diálogo infinito, pois sempre haverá inúmeras possibilidades de “revisitar” discursos sob distintos conceitos, distanciando a ideia de uma “obra completa” e aproximando o olhar de “construção” de dizeres, pois a obra é um processo, e só pode ser considerada produto quando dialoga com o leitor.
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Autor |
Ana Carla Carneiro Rio |
Editora |
APPRIS |
Idioma |
PORTUGUÊS |
Encadernação |
Brochura |
Páginas |
147 |
Ano de edição |
2023 |
Número de edição |
1 |