• Caso oblíquo

“Dezenove anos! O dia e o lugar de meu nascimento estão mais e mais longe. Após cinco meses, eu consigo recordar só a Bruges dos bilhetes postais de saudações, enquadrada, em partes, mas esmaecida, gris sob a neblina da realidade e a névoa da memória, reflexos trêmulos nos canais apenas: empenas serrilhadas, telhados pontiagudos, agulhas de igrejas, cisnes retraídos, os bicos sob as penas. Pelas pontes, trotes de caleches, as capotas levantadas. Chuva lá. Chuva cá. O véu fino que me regou a infância e a adolescência tornou-se grossa rede ao se lançar sobre minha juventude tropical. Chove cordas no verão aquoso do Brasil. Nada é sólido. Nada acontece. O jorro contínuo da água. Pancadas secas no relógio da Matriz. Badaladas graves nos sinos de seu par de torres. Repiques argentinos na Capela do Rosário. Surdas explosões de dinamite nas pedreiras ao longe. Belo Horizonte não existe: nem belo nem horizonte!”

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Autor Beatriz de Almeida Magalhães
Editora AUTÊNTICA
Idioma PORTUGUÊS
Encadernação Brochura
Páginas 232
Ano de edição 2009
Número de edição 1

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