No início do século XX, quando o Carnaval era uma festa para poucos e o Rio de Janeiro passava por grandes transformações, grupos de mascarados se reuniam pelos becos da cidade e enfrentavam a ordem pública e a repressão. Diziam ter o corpo fechado, falar com espíritos e ter poderes sobre-humanos. Eram chamados de ''clóvis'' ou ''bate-bolas''.
Hoje em dia, a tradição continua viva no Rio, sobretudo nos bairros do subúrbio. Os bate-bolas habitam as ruas, disputando o imaginário da cidade. Uma gangue de arrastão poético, à margem do Carnaval convencional, e uma tradição que há anos é criminalizada pela elite carioca. Imerso nesse universo mitológico, o cineasta Felipe Bragança idealizou o projeto transmídia CLAUN, cuja primeira fase é composta por uma websérie e um filme-piloto, a segunda pela graphic novel e a terceira, um jogo de videogame, já está em produção.A proposta é lançar um olhar de crônica e de investigação sobre a mitologia do Rio de Janeiro e os grupos de clóvis e bate-bolas que tomam as ruas no Carnaval - chegando aos milhares de foliões. Pela primeira vez, essas figuras fascinantes que se apropriam do imaginário pop, como lembra Hermano Viana, ''recebem finalmente tratamento de super-heróis''.
O projeto CLAUN começou a ser gestado em 2011 e teve início de fato em 2013, quando estreou a websérie, que deu origem ao filme-piloto Os dias aventurosos de Ayana, apresentado no Festival de Rotterdam. A produção contou com a colaboração de sete turmas reais de bate-bolas. Os três episódios da websérie serão também exibidos em breve nas TVs aberta e por assinatura.O projeto avança para a publicação da graphic novel Claun: a saga dos bate-bolas, pelo selo Barricada, da Boitempo Editorial. O livro será composto por cinco contos, fábulas urbanas em torno da tradição e das lutas históricas dos grupos de clóvis: ''As primeiras máscaras'', ''Jonas perde seu rosto'', ''Daury e a morte'', ''Meu rosto quando imagino'' e ''Amilcar e os espíritos''. Todos os textos e histórias são de Bragança, e a arte é de Daniel Sake e Diego Sanchez e Gustavo M. Bragança. Há também a participação de artistas convidados: o fotógrafo André Mantelli, que documentou uma saída de bate-bolas no Carnaval de 2013, e o artista plástico Aloysio Zaluar, autor de uma série de pinturas realizadas na década de 1970 sobre os fantásticos mascarados do Carnaval. Complementam o álbum fotografias das décadas de 1970, 1980 e 1990, mostrando as mudanças e continuidades na tradição dos bate-bolas.
A obra terá ainda um mapa do Rio de Janeiro com a localização de mais de 300 turmas de bate-bolas e o ensaio ''Eu, bate-bola'', que narra a imersão de Bragança nesse universo. O cineasta passou o Carnaval de 2013 como nativo do grupo, sofrendo a mesma violência policial que tenta tirá-lo das ruas, uma consequência do onipresente processo de ''revitalização'', ''limpeza'' e ''ordem'' da cidade.
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Autor |
Felipe Bragança |
Editora |
BOITEMPO |
Idioma |
PORTUGUÊS |
Encadernação |
Brochura |
Páginas |
120 |
Ano de edição |
2014 |
Número de edição |
1 |