Neste livro, reunimos a força viva de muitas vozes indígenas que atravessam o Brasil por diferentes caminhos, mas que se encontram aqui em um mesmo território: o da infância. Cada texto que compõe esta obra é um sopro de memória, um rastro de encantamento, uma roda de vivências que brotam das raízes de povos distintos — da floresta, do cerrado, das margens dos rios, dos sertões, da serra e das aldeias urbanas. São palavras que nascem do chão onde cada autora e autor foi criança, onde correram livres, ouviram histórias ao redor do fogo, aprenderam com as plantas, com os bichos, com os mais velhos e com os encantados. As formas de escrita aqui presentes são múltiplas, assim como os povos que as originam. Cada texto carrega o estilo próprio de quem o escreve — uns mais narrativos, outros mais poéticos, outros feitos de perguntas, cordel, silêncios e cantos. Mas todos nascem de uma literatura que não começa no papel. Antes da letra, vieram os grafismos sobre o corpo, as pinturas com jenipapo e urucum, os cantos e danças, os traços na cerâmica, os registros na palha trançada e nas pedras que guardam os passos dos ancestrais. Neste livro, a palavra escrita é continuidade de uma oralidade ancestral. É caminho que liga tempos, corpos e territórios. Escritoras e escritores indígenas, de diferentes culturas e regiões do país, oferecem aqui não apenas lembranças de suas infâncias, mas modos de ver e viver o mundo que podem transformar a maneira como educamos. Este livro é um convite para que educadores e educadoras se aproximem das múltiplas infâncias indígenas com escuta sensível e olhos abertos. Que este encontro com as palavras dos povos originários possa iluminar caminhos mais diversos, afetivos e respeitosos na formação das crianças de hoje — todas elas, indígenas ou não. Porque, como ensina a ancestralidade, é na coletividade que se aprende, e é com o coração atento que se ensina.