Como poder ser um sexpert
Exerço essa profissão desde meus quinze anos, mas as trezentas vezes que ouvi essa palavra, tive um sobressalto. Expert, isso me assustava um pouco. E, além disso, parecia ser algo incrivelmente sério. Entretanto, em dado momento, após milhares de artigos ( e isto não é nenhum exagero), eu parei de corrigir meus interlocutores. Da mesma forma que parei de explicar de que modo escrever sobre sexualidade constitui um trabalho tão legítimo quanto escrever sobre esporte ou política (além do mais, nossa sexualidade não carece nem de esporte, nem de política).
Agora, como se pode ser um sexpert? Não somos todos e todas experts em sexualidade - ao menos na nossa? É precisamente aí que está o X da questão: ainda que o trabalho de cronista seja falar a partir de um ponto de vista específico, esse ponto de vista não pode de forma alguma envolver sua vida pessoal. Muito pelo contrario. De onde vem um paradoxo interessante: uma sexpert será constantemente remetida à sua experiência, ou à sua aparência (de acordo com o dia, ela será percebida como: hetero, lésbica, jovem, velha, francesa, americana, frustrada, preenchida) - e, no entanto, uma sexpert nunca fala de si mesma (até onde se sabe, eu poderia ser uma Uzbek pansexual arromântica de 94 anos)
Tornamo-nos sexperts com nossa subjetividade, com a condição de aplicá-la a dados tão objetivos quanto possível. Exatamente da mesma forma que um crítico gastronômico tem seu gosto, desgostos e visão, mas deve saber deixar de lado as preferências para que as pessoas saibam, se, por este menu de degsustação de 89 euros, fora os impostos, vale a pena esperara quatro horas debaixo de chuva.
Certas tendências poderão nos surpreender, nos entreter, nos irritar.
Às vezes, não cremos em nossos próprios olhos. Outras, ficamos entediados. Mas é por isso que precisamos observar e dissecar os outros: se todo mundo tivesse uma vida sexual parecida com a minha, eu nada mais teria a escrever. Não sei se gostaria de viver em um universo moldado pelas minhas próprias regras. O que nos leva a uma consequência inexorável: ao escrever minhas crônicas, não tenho nenhuma necessidade particular de ter razão. Não preciso que concorde comigo.
Sendo assim, você é colaboradora, colaborador desta compilação. Eu ofereço minha visão. Você completa com a sua, que pode ser diametralmente oposta. Sou uma sexpert e não uma guru. Não possuo nenhuma verdade transcendental sobre o "bom sexo" - mas tenho uma ideia precisa de que vem as ser meu ideia. Não sei como salvar o mundo - mas, mesmo assim, lhe explicareu como fazê-lo Eu não sou sexóloga - mas posso ser extremamente técnica.
Posto que sou uma sexpert, e não uma guru, isto aqui é apenas uma conversa. Prossigamos com ela, então?