Em Deus, entre outros inconvenientes, o filósofo e professor da Universidade de Harvard Xavier Rubert de Ventós exerce um contrapeso aos dogmas contemporâneos, tratados como acima de qualquer suspeita e reproduzidos à exaustão. Munido de vasto repertório histórico e filosófico, o autor argumenta com desenvoltura, lançando mão da filosofia ocidental e de uma boa dose de acidez para questionar verdades sociais absolutas. A começar pela maior delas: a existência de Deus. A ironia expressa no título dá o tom ao estilo adotado pelo autor catalão. Na introdução, Ventós deixa claro que seu intuito é questionar lugares-comuns e mexer com ilusões. "O excesso de unanimidade sempre me pareceu um pouco suspeito, quando não temível. Todo consenso demasiadamente geral costuma ser o prólogo que anuncia (ou o epílogo que legitima) algum tipo de linchamento, físico ou moral". Para o filósofo, "Deus é o primeiro expediente com o qual conseguimos extravasar de alguma maneira o desamparo e o enigma de nossa existência (consequentemente, é também o primeiro inconveniente na hora de entendê-los ou de enfrentá-los". Sem recorrer a didatismos, o livro, constituído por uma seleção de ensaios sobre temas diversos, divide-se em duas partes. A primeira percorre a construção da ideia de divindade e suas distintas concepções históricas. Ao contrário da religiosidade clássica, o cristianismo impôs um Deus único, intervencionista, ciumento e infalível. O fundamentalismo moderno, defende o autor, surge do encontro histórico da sociedade romana com o aparecimento e a expansão da fé cristã. "Nasce precisamente da mescla (...) do universalismo territorial romano e o universalismo espiritual cristão", aponta. Na segunda parte, o autor se volta, em análises breves, contra as unanimidades do mundo de hoje. Quando se pensava que o século XX houvesse, por fim, exterminado os mitos do passado, o autor oferece um desvio de foco, provocando um olhar menos autocomplacente para temas ainda hoje sacramentados. Ventós desafia a convenção do politicamente correto, como no ensaio "Defender sexo, tabaco e chocolate", desconfia da razão e do amor e é cético em relação à linguagem. A busca insaciável pelas vanguardas, os laços familiares tratados como uma bolha de proteção contra a maldade humana são alvos de um pensador que recusa convenções. Afinal, explica o escritor, "quando todo mundo está de acordo em criticar algo, o que está em jogo é mais a cumplicidade do grupo do que a objetividade do juízo".
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Autor |
Xavier Rubert de Ventós |
Editora |
OBJETIVA |
Idioma |
PORTUGUÊS |
Encadernação |
Brochura |
Páginas |
208 |
Ano de edição |
2011 |
Número de edição |
1 |