Este é um trabalho que foge um pouco do que temos publicado aqui. Esta é basicamente uma editora da palavra, predominantemente da palavra poética. Até hoje, fizemos apenas três publicações em que a imagem é protagonista ou divide o proscênio com o texto.



Mas ao encarar este trabalho cuidadoso, minucioso, verdadeira ourivesaria de Noris Lima, o que vimos, em cada traço, é pura poesia. Poesia como explosão de múltiplos sentidos em cada elemento (no caso, o traço ocupando o lugar da sílaba, a textura compondo o verso).



A artista escolheu uma técnica que é, por si só, desafiadora: todos os desenhos foram executados com (e somente com) lápis de cor. É algo que exige minúcia, precisão e camadas, muitas camadas de cor para se chegar aos contrastes, aos brilhos, aos detalhes que cada um desses desenhos mostra. O resultado é a sensação, a cada página, de que um daqueles bicos vai nos surpreender com um pio.



Ao mesmo tempo, toda essa beleza que Noris nos mostra é ciência. É engenho, além de arte. O trabalho é resultado de alguns anos de pesquisa e registros das espécies, selecionadas entre as mais de 500 que habitam a Capital paulista ou passam sazonalmente por ela (sim, São Paulo tem mais variedade de pássaros e outras aves do que o Chile ou Portugal).



Ao resultado primoroso de sua arte/ciência, Noris teve a ideia de acrescentar textos do biólogo e colunista de O Estado de S. Paulo, Fernando Reinach, em que o cientista descreve hábitos curiosos das aves, sempre com a originalidade de extrair dos nossos amigos plumados uma ou mais lições sobre as nossas vidas.



Um apêndice ao final do livro ainda mostra sucintas descrições dos hábitos e características de cada espécie aqui registrada, elaboradas pelo também fotógrafo e pesquisador Marcos Kawall.



Por tudo isso, este “Pássaros e outras aves da cidade de São Paulo” é uma daquelas obras que atravessarão gerações, com pais mostrando a filhos, avós mostrando a netos, numa feliz apropriação dos paulistanos por sua cidade, dos brasileiros por suas riquezas que a tudo resistem.



Filipe Moreau e Jayme Serva