Caminho da Piedade, caminhos de devoção, vem preencher uma lacuna há muito percebida, a do entendimento da presença das confrarias de homens pretos nos universos escravistas predominantemente rurais. No caso, o mundo da escravidão no vale do Paraíba paulista dos séculos XVIII e XIX.
Uma sociedade das mais florescentes de seu tempo, caracterizada, segundo alguns autores, como fase madura da exploração do trabalho escravo e que teve como esteio o aporte significativo e constante de cativos vindos diretamente da África pelo tráfico intercontinental e depois de várias partes do Brasil. O estudo destas irmandades, emoldurado pelas circunstâncias históricas próprias às sociedades oitocentistas vale-paraibanas, foi um grande desafio.
Além disso, colocou no horizonte da tese investigar o papel dessas associações no jogo das complexas relações de dominação e de resistência – em que a violência e a exploração do trabalho se emparelhavam com roças de cultivo dos escravos, um trânsito frequente dos mesmos em direção aos centros urbanos e relações de vizinhança entre parceiros de diferentes senhores, tudo isso cadenciado pelas leis abolicionistas que se fizeram sentir no avançar do século XIX.